Não venho até aqui defender a descriminalização do aborto -
apesar de ser a favor de tal. Estou aqui para falar sobre a nova aberração que
querem nos empurrar nesse país: Estatuto de Nascituro. Se você ainda não
conhece, é bom dar uma pesquisada, mais ainda se você for mulher. Entre outros
detalhes o texto visa te investigar se você engravidar e tiver um aborto
espontâneo. Ele visa te investigar se você engravidar, adoecer e precisar de um
tratamento para se manter vida, mas que mataria seu feto e optar por fazê-lo -
porque você morrer não tem problema, mas um embrião morrer porque você se
tratou tem. Ele visa, também, te impedir de abortar caso seja estuprada, ele
obriga que você carregue o filho - querendo ou não -, que o seu estuprador,
caso encontrado, assuma a paternidade, pague uma pensão e conviva com você e
seu futuro bebê. Se o estuprador não for encontrado você vai ter o incrível
benefício chamado Bolsa Estupro. Simpático, né?
Vamos por partes. A primeira é a parte econômica: nós
estamos, aparentemente, no início de uma crise e aquela velha conhecida nossa,
a inflação, tá louquinha querendo bater na nossa porta. O que se espera são medidas
para conter essa inflação para o país não dar uma de Grécia e abrir falência.
Aí eles dizem que essa lei, financeiramente, é aceitável. Mesmo? Quer dizer que
não tem dinheiro pra muitas coisas, mas para fazer uma bolsa-alguma-coisa tem?
Ninguém pensa, por exemplo, o risco da taxa de mortes após o
estupro aumentarem, não é? Porque tudo que um estuprador deseja depois de
cometer esse crime hediondo é ser obrigado a assumir uma paternidade. Ele é bem
esse cara legal que faria isso, já começando pela a atitude muito humana dele
com relação às mulheres. Então, muito provavelmente, ele vai garantir que pode
estuprar quantas ele quiser e depois não ter esse "problema" na vida
dele, porque de um crime hediondo pro outro é um pulo.
No entanto, a pior parte dessa lei é o pessoal antiaborto.
Esse pessoal do bem que quer um espaço no Céu de qualquer jeito. Esse pessoal
que pensa no próximo acima de tudo, mas não possui uma única pouca razão para ser
contra. As “justificavas” deles são aquelas do tipo "Nossa, mas gravidez
nem é tão traumático assim" - falam os homens e as mulheres que amam ser
mãe, passaram por experiências ótimas e acham que, portanto, toda mulher deve
se sentir da mesma forma. Eles falam de religião, esquecendo que o Estado devia
ser laico e que ninguém, nenhuma pessoa nesse mundo, é obrigada a seguir a
mesma religião que ele ou acreditar num Deus, logo religião só é desculpa para
ele e que não devia servir de argumento em momento algum. Muitas mulheres falam
das maravilhas de ser mãe e acham que se você não for mãe, se você não puder
ser mãe, se você não quiser ser mãe, você não é mulher, falam como se ser
mulher se resumisse a isso, de tão alienadas que estão no machismo e na nossa
sociedade. A mulher que aborta é assassina, a mulher que não deseja um filho
não é mulher. No ponto de vista de muita gente, trauma nenhum justifica esse
horrível assassinato de um amontoados de células.
No ponto de vista dessa gente, ser pró-aborto é obrigar a
mulher a fazer um aborto, não dar o direito dela de escolher. Por que isso
acontece? Porque nossa sociedade só obriga, só empurra coisas goela abaixo e
quando se propõe um modelo diferente deste é difícil entender, porque é difícil
perceber que se luta pela LIBERDADE de escolha e não pela OBRIGATORIEDADE de
atitude.
Esse grupo tão pró-vida não pensa na criança - que não vai
ser amparada por eles, pelo Estado, pela igreja. Que pode ficar traumatizada
porque não foi deseja, porque é fruto de um estupro, que pode sofrer abusos por
crescer num lar não estruturado. Se a criança for para um orfanato vai sofrer, vai
sofrer porque nosso sistema de adoção é lento, porque os casais só querem
bebês, crianças branquinhas e as outras vão ficando, vão sendo rejeitadas um
dia após o outro. Se amanhã essa criança virar uma assassina, uma criminosa por
qualquer um dos motivos acima citados, esse mesmo grupo vai defender a pena de
morte, a redução da maioridade penal, vai acusá-la de seus crimes hediondos.
Não pensa na mulher, porque a mulher não deve ter direito ao próprio corpo, a
mulher deve ansiar ser mãe, deve achar gravidez uma passagem feliz na vida. A
mulher não pode ter traumas, todas elas devem ser felizes e estar preparadas
para tudo sempre. Se ela não estiver pronta para ser mãe, for forçada a criar
uma criança e se essa criança sair da linha, a culpa vai ser dela e apenas
dela. Porque ela é a mãe, querendo ou não. Falta a esse grupo tão pró-vida, tão
maravilhoso, bons argumentos, argumentos de verdade, não desculpinhas de homens
- que não engravidam e querem impor decisões as suas companheiras como se
fossem donos das mesmas - e mulheres alienadas, que ou só tiveram o lado bom da
vida ou apesar dos apesares conseguiram enfrentar tudo muito bem e acham que o
mesmo se resume as demais.
Está é a nossa sociedade, resumindo a mulher num objeto de
desejo, numa vadia que provoca, numa incubadora.
Exemplo de argumentação de verdade: http://www.elivieira.com/2013/04/pela-defesa-da-vida-atraves-da.html








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