segunda-feira, 10 de junho de 2013

[DEBATE] Sobre aborto e o estatuto do nascituro

Não venho até aqui defender a descriminalização do aborto - apesar de ser a favor de tal. Estou aqui para falar sobre a nova aberração que querem nos empurrar nesse país: Estatuto de Nascituro. Se você ainda não conhece, é bom dar uma pesquisada, mais ainda se você for mulher. Entre outros detalhes o texto visa te investigar se você engravidar e tiver um aborto espontâneo. Ele visa te investigar se você engravidar, adoecer e precisar de um tratamento para se manter vida, mas que mataria seu feto e optar por fazê-lo - porque você morrer não tem problema, mas um embrião morrer porque você se tratou tem. Ele visa, também, te impedir de abortar caso seja estuprada, ele obriga que você carregue o filho - querendo ou não -, que o seu estuprador, caso encontrado, assuma a paternidade, pague uma pensão e conviva com você e seu futuro bebê. Se o estuprador não for encontrado você vai ter o incrível benefício chamado Bolsa Estupro. Simpático, né?
Vamos por partes. A primeira é a parte econômica: nós estamos, aparentemente, no início de uma crise e aquela velha conhecida nossa, a inflação, tá louquinha querendo bater na nossa porta. O que se espera são medidas para conter essa inflação para o país não dar uma de Grécia e abrir falência. Aí eles dizem que essa lei, financeiramente, é aceitável. Mesmo? Quer dizer que não tem dinheiro pra muitas coisas, mas para fazer uma bolsa-alguma-coisa tem?
Ninguém pensa, por exemplo, o risco da taxa de mortes após o estupro aumentarem, não é? Porque tudo que um estuprador deseja depois de cometer esse crime hediondo é ser obrigado a assumir uma paternidade. Ele é bem esse cara legal que faria isso, já começando pela a atitude muito humana dele com relação às mulheres. Então, muito provavelmente, ele vai garantir que pode estuprar quantas ele quiser e depois não ter esse "problema" na vida dele, porque de um crime hediondo pro outro é um pulo.
No entanto, a pior parte dessa lei é o pessoal antiaborto. Esse pessoal do bem que quer um espaço no Céu de qualquer jeito. Esse pessoal que pensa no próximo acima de tudo, mas não possui uma única pouca razão para ser contra. As “justificavas” deles são aquelas do tipo "Nossa, mas gravidez nem é tão traumático assim" - falam os homens e as mulheres que amam ser mãe, passaram por experiências ótimas e acham que, portanto, toda mulher deve se sentir da mesma forma. Eles falam de religião, esquecendo que o Estado devia ser laico e que ninguém, nenhuma pessoa nesse mundo, é obrigada a seguir a mesma religião que ele ou acreditar num Deus, logo religião só é desculpa para ele e que não devia servir de argumento em momento algum. Muitas mulheres falam das maravilhas de ser mãe e acham que se você não for mãe, se você não puder ser mãe, se você não quiser ser mãe, você não é mulher, falam como se ser mulher se resumisse a isso, de tão alienadas que estão no machismo e na nossa sociedade. A mulher que aborta é assassina, a mulher que não deseja um filho não é mulher. No ponto de vista de muita gente, trauma nenhum justifica esse horrível assassinato de um amontoados de células.
No ponto de vista dessa gente, ser pró-aborto é obrigar a mulher a fazer um aborto, não dar o direito dela de escolher. Por que isso acontece? Porque nossa sociedade só obriga, só empurra coisas goela abaixo e quando se propõe um modelo diferente deste é difícil entender, porque é difícil perceber que se luta pela LIBERDADE de escolha e não pela OBRIGATORIEDADE de atitude.
Esse grupo tão pró-vida não pensa na criança - que não vai ser amparada por eles, pelo Estado, pela igreja. Que pode ficar traumatizada porque não foi deseja, porque é fruto de um estupro, que pode sofrer abusos por crescer num lar não estruturado. Se a criança for para um orfanato vai sofrer, vai sofrer porque nosso sistema de adoção é lento, porque os casais só querem bebês, crianças branquinhas e as outras vão ficando, vão sendo rejeitadas um dia após o outro. Se amanhã essa criança virar uma assassina, uma criminosa por qualquer um dos motivos acima citados, esse mesmo grupo vai defender a pena de morte, a redução da maioridade penal, vai acusá-la de seus crimes hediondos. Não pensa na mulher, porque a mulher não deve ter direito ao próprio corpo, a mulher deve ansiar ser mãe, deve achar gravidez uma passagem feliz na vida. A mulher não pode ter traumas, todas elas devem ser felizes e estar preparadas para tudo sempre. Se ela não estiver pronta para ser mãe, for forçada a criar uma criança e se essa criança sair da linha, a culpa vai ser dela e apenas dela. Porque ela é a mãe, querendo ou não. Falta a esse grupo tão pró-vida, tão maravilhoso, bons argumentos, argumentos de verdade, não desculpinhas de homens - que não engravidam e querem impor decisões as suas companheiras como se fossem donos das mesmas - e mulheres alienadas, que ou só tiveram o lado bom da vida ou apesar dos apesares conseguiram enfrentar tudo muito bem e acham que o mesmo se resume as demais.
Está é a nossa sociedade, resumindo a mulher num objeto de desejo, numa vadia que provoca, numa incubadora.


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